Autor: Albert Camus
Editora: Record
Ano: 2007
Páginas: 112
Formato: Epub
“A indiferença, que já ocupava tanto espaço em mim, deixou de encontrar resistência e alastrou sua esclerose.”
Que livro denso!
Não em páginas, mas em palavras.
A Queda é um diálogo em forma de monólogo. É possível perguntar, não ouvir a resposta, mas sabê-la? Para Camus, sim.
Ele apresenta Jean-Baptiste Clamence, juiz-penitente domiciliado em Amsterdã, que conhece um sujeito “sem-nome” no bar Mexico-City que fica no cais da cidade. Logo, Clamence passa a desfiar sua vida cheia de altos e baixos através das páginas.
Mas seria Clamence um louco delirando em um hospício? Seria ele um homem confessando-se ao padre? Ou um melancólico abrindo-se diante do espelho? Seria Clamence um moribundo contando sua vida como último suspiro? Ou, talvez, Clamence estaria falando com seu outro eu?
Todas as respostas estão corretas, ou erradas, mas tudo depende de onde o leitor está. Esse ponto da leitura me deixou realmente fascinado: a história possui conotações diferentes, que dependem do espírito do leitor.
“Quando pensamos muito sobre o homem, por trabalho ou vocação, às vezes sentimos nostalgia dos primatas. Estes não tinham segundas intenções.”
Como um bom francês colonial (Camus era argelino) o autor faz uma breve descrição dos franceses: adoradores de jornais e de fornicação. Tendo sua infância argelina sido sob o signo da fome, do calor e da presença francesa é fácil identificar o motivo das críticas.
Sobre Amsterdã, Clamence faz uma comparação entre os canais circulares com os círculos do inferno, numa alusão ao livro A Divina Comédia, inclusive diz que a sociedade atual (a dele ou a nossa?) está, definitivamente, no purgatório.
Clamence era advogado de defesa de grande assassinos, que com sua boa fala e persuasão conseguia ganhar até os mais improváveis casos. Mas, apesar disso, era cortês e generoso com todos que pudesse: com cegos, idosos, animais e outros cidadãos necessitados. Mas algo dentro dele mudou, e ele se viu envolto em um mundo de rudeza e desesperança que o transformaram em um homem opressor, egoísta e niilista. Busca uma saída para suas aflições nas prostitutas e no álcool, mas sempre se encontra na solidão e na angústia.
O livro é uma viagem interior densa e cheia de curvas. A consciência de si no mundo em que habita me faz lembrar do príncipe Hamlet, da obra homônima de Shakespeare. Clamence descobre que sua vida era estar presente sem estar.
“Não espere pelo juízo final. Ele se realiza todos os dias.”
Um mundo de reflexões sobre nós mesmos: o que é existir? é a pergunta que me faço e faço a você, leitor. Antes de dizer como se vive, reflita sobre o que é viver. Esse livro e, em especial, Albert Camus, mexeram comigo, definitivamente.
Uma referência que não posso deixar de fazer é ao filme Clube da Luta. Justamente por encontrar nesse bom filme a luta contra o pior de nossos demônios: nós mesmos. Será que quando estamos falando/pensando sozinhos esse alguém que nos ouve um dia se libertará?
Até a próxima!
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A frase da nostalgia q leva aos primatas lembrou-me o livro o macaco nú.
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O enredo desse livro que você citou, inclusive, é bem interessante.
Obrigado.
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